sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Let's talk 'bout love...

Escolho hoje para escrever... (re)dizer o que já foi dito, processado e aquilo que está ainda por vir a ser...afinal, a medida que as palavras se tornam legíveis, outras coisas acontecem: a transformação se dá aí, na liguagem...onde tudo desemboca no real da vida.
Mas a vida das coisas não é assim...ela é gestada lentamente, especialmente quando falo do que gostaria de gritar hoje. Assim como as palavras aqui postadas, o amor que me nutre não surge de tempestades repentinas e permanece estático... vem de cada gesto, cada olhar, cada momento que se passa com o ser amado. Constrói-se intermitentemente na presença e na ausência, nas coisas ditas e especialmente nas não ditas.
O amor é sorte e milagre, mas aos poucos se aprende que o milagre é termos capacidade de amar e deixarmos ser amados, e a sorte...ah...essa é nossa companheira constante, só aqueles que não olham ao redor e não tem a perspicácia do olhar não entende essa mágica da vida!
Contudo...amor não é um eterno estado de graça...é milagre mas não é miraculoso...ah de nós não trabalharmos para que o amor exista, persista, cresça e apareça em nossas vidas como elemento principal! E voltamos ao cotidiano, aos pequenos e singulares detalhes do dia a dia que nos fazem colocar a cada instante um bloquinho de concreto em um sentimento que, nas histórias parecem tão abstratos, mas nada tem de furtivo...é sólido e sua massa são tantos outros sentimentos que andam juntos de mãos dadas.
Amizade para ser você mesmo, carinho para que o olhar seja sempre diferenciado, paciência e sabedoria para deixar as coisas passarem quando devem e trazer à tona o que não pode ser despercebido, entrega de corpo, de alma, de sonhos e de vida...abdicação constante e recíproca e, a cima de tudo, uma cumplicidade ímpar que apenas os que possuem a vontade de amar para sempre possuem.
É na sapiência dos momentos certos para calar, falar, ouvir, discutir, afagar, perdoar, ignorar...nessa necessidade vital de entender o outro apenas com os olhos e, além do outro, entender a aura que dá vida ao relacionamento amoroso que reside o amor tranquilo, que o Cazuza cantou... aquele com sabor de fruta mordida...ou o tal sapato velho do Roupa Nova...o amor que congrega almas e desfruta de uma vida imperfeita mas deseja e é nutrida por uma felicidade constante de "querer bem...de se querer quem se tem".
Relacionamentos de longa data, mesmo que nas atuais circunstâncias estejam escassos, ainda têm aos montes...mas relacionamentos duradouros, esses são outra história...para durar e perdurar a felicidade é preciso que os amantes desejem amar, desejem ser para o outro aquilo que almejam para si...é necessário ter fé no amor, esperança na vida, persistência na relação e um amor transcendental que é amigo, amante, pai, mãe, irmão e cúmplice.
Tudo isso para bem dizer o que vivo e que hoje completam 730 dias de lar, união, carinho, afeto, paixão, tesão...e mais alguns tantos de um milagre que a vida deu voltas e curvas em nossas histórias para nos unir.
Amo-o de forma intensa, calma, leve e feliz....amo assim como escrevo esse texto...pensando, escrevendo, apagando cada erro e reescrevendo quantas vezes necessário for, apenas para dizer que cada dia fortalecemos nosso amor e nossa cumplicidade que nos faz feliz.
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Amor de Índio
Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Tudo o que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo cuidado, meu amor
Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com o arco da promessa
Do azul pintado pra durar

Abelha fazendo mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser todo
Todo dia é de viver
Para ser o que for e ser tudo

Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado, meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do seu suor
Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver

No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

As coisas dos tempos

Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos erravam cegos pelo continente,
levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
o carnaval, o carnaval
Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
e os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade até o dia clarear
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral... vai passar
(Vai passar - Chico Buarque)
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Após um ano adormecida, sem me contar, sem refletir no papel as coisas que me formaram, reabro este blog com antipatia, indignação e um calor no peito por ver que o que "era pra ter passado" volta cada vez mais forte e retumbante.
Se não vivi essa época que o Chico nos conta e canta tão bem, a li, me apaixonei por sua história e seus personagens...e como a gente se forja também daquilo que é o não vivido mas experimentado pela literatura, pela arte... me faço um pouco a partir dos Anos de Chumbo, daqueles que sonharam, brigaram e amarguraram em nome de uma liberdade de expressão cerceada pelas botas pretas e cabeças tortas.
E há um pouco mais de um ano pude depara-me com uma pequena amostra desses tempos..."o bloco dos Napoleões retintos" dentro das instituições que deveriam primar pela construção coletiva de uma sociedade mais igualitária e justa. Não tinham botas pretas, nem torturas físicas...mas como sabem de camisa social e tinta no cabelo torturar psicologicamente almas que prezam por uma justiça que está escrita, mas não se faz.
E deste modo desisti...
E hoje de outro lado (efetivamente só muda o lado do viaduto) indigno-me novamente com as velhas camisas e outros ternos, numa fome voraz que só aumentou com o tempo inerte que hibernou. Sedentos por mais poder, famintos por uma espécie de manipulação e convencimento baixos, sórdidos...cercados por gente que prefere arriar as calças ao invés de brigar.
Triste ver a Universidade Pública desse país comandanda por essas estirpes...triste ver meninos e meninas cooptados por meros assentos em DAs que um dia foram estandarte de luta. Triste ver a educação de nosso jovens e a produção do nosso conhecimento ignorados por homens e mulheres de pouca visão.
Um pouco feliz ao menos por perceber que a luta ainda pode ser feita...e que posso ainda ser subjetivada e subjetivar-me da esperança da prática política, se não capaz de revoluções sociais, mas transformadora de almas.
E aos que batem "palmas para a ala dos barões famintos"...cuidado pois "a pátria mãe tão distraída, sem perceber que é (era) subtraída em tenebrosas transações".
Aos que "leva(va)m pedradas feito pernitentes"...."a evolução da liberdade até o dia clarear"!!!!
Aline Moraes